O QUE É A DOENÇA RENAL CRÔNICA E O QUE A DOENÇA PODE CAUSAR ??
A doença renal crônica (DRC) consiste em lesão renal, perda progressiva e irreversível da função dos rins. Segundo a Kidney DIsease:Improving Global Outcomes (KDIGO), a doença renal crônica é definida como alteração da estrutura ou função renal, presente por um período superior a três meses.
Estima-se que uma em cada 10pessoas, apresente algum grau de disfunção renal.
A DRC aumenta o risco de doença cardiovascular e expõe estes pacientes a uma maior morbidade e mortalidade por todas as causas. Este risco se agrava conforme a piora progressiva da função renal e se intensifica na presença de perda de proteina na urina.
QUAIS SÃO OS PRIMEIROS SINTOMAS DA DOENÇA?
Geralmente, a DRC é uma doença de curso prolongado, silencioso e que na maior parte do tempo de sua evolução, é assintomática; o que dificulta o seu diagnóstico precoce.
Os sintomas aparecem em estágios mais avançados da doença e são decorrentes do mau funcionamento dos rins, como: anemia, edema, falta de ar (congestão pulmonar), distúrbios metabólicos(hipercalemia e acidose metabólica) e sintomas urêmicos (sonolência, vômito, naúsea e falta de apetite).
COMO DIAGNOSTICAR A DOENÇA RENAL CRÔNICA? QUAIS EXAMES SOLICITADOS AO PACIENTE?
Por se tratar de doença insidiosa, o importante primeiramente, é reconhecer quem são os indivíduos que estão sob o risco de desenvolver DRC, objetivando o diagnóstico precoce e identificar quais são os fatores de pior prognóstico relacionados a progressão da doença( ou seja, a perda mais rápida da função renal).
E através dos exames de creatinina sérica, urina tipo 1, albuminuria na urina isolada e ultrassom de rins e vias urinárias, é possível estimar a taxa de filtração glomerular (TFG) do paciente, identificar anormalidades no sedimento urinário e lesões na estrutura renal.
QUAIS SÃO OS TRATAMENTOS APÓS O DIAGNÓSTICO DA DOENÇA?
A doença renal crônica está classificada em 05 estágios, conforme a taxa de filtração glomerular, correspondendo o estágio 1, a uma melhor função renal (TFG maior ou igual a 90ml/min/1,73m2) e o estágio 5 a uma pior função renal (TFG menor do que 15ml/min/1,73m2).
O tratamento conservador está reservado aos estágios mais precoces da DRC, se extendendo até o momento de iniciar terapia renal substitutiva. O mesmo visa controlar os fatores de risco para a progressão da DRC, bem como para os eventos de doença cardiovascular e mortalidade, com o objetivo de conservar a TFG pelo maior tempo possível.
Este deve ser individualizado, conforme o estágio da doença renal crônica, visando medidas de nefroproteção, como: evitar o uso de anti-inflamatório não-hormonal e outras drogas nefrotóxicas, reduzir ingestão de sódio e proteína, abandono do tabagismo, controle da pressão arterial e diabetes mellitus, estimular hábitos de vida saudável e peso corpóreo adequado e uso de medicamentos anti-proteinúricos quando indicado.
A terapia renal substitutiva (diálise) e transplante renal são tratamentos reservados ao estágio 5 da DRC. A diálise é um processo de filtração do sangue utilizado para eliminar líquido e substância tóxicas provenientes do metabolismo das células e da ingestão de alimentos. Existem dois tipos de diálise: diálise peritoneal e hemodiálise.
O transplante renal é um procedimento cirúrgico que consiste na transferência de um rim, de um indivíduo para outro, a fim de substituir as funções que os rins doentes não conseguem mais manter. Pode ser realizado através da doação renal, de um doador vivo ou cadáver. O transplante renal com êxito está associado a liberdade da diálise, melhor qualidade de vida e melhora da sobrevida.
QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS FATORES QUE LEVAM UMA PESSOA A TER PROGRESSÃO DA DOENÇA RENAL CRÔNICA?
Os preditores de pior prognóstico para perda de função renal, são: hipertensão arterial,diabetes mellitus ou colesterol descontrolados,tabagismo ativo, estágios avançados da doença renal, presença de albuminuria e sua intensidade e o uso de agentes nefrotóxicos.
TEMOS O PL836/21, QUE TEM A PROPOSTA DE INSTITUIR NO CALENDÁRIO OFICIAL DE EVENTOS DO ESTADO A SEMANA DE PREVENÇAO E COMBATE Á INSUFICIÊNCIA RENAL CRÔNICA E DO PACIENTE TRANSPLANTADO RENAL. ACHA QUE DEVE HAVER MAIS POLITÍCAS PÚBLICAS PARA CONSCIENTIZAR A POPULAÇÃO SOBRE AS DOENÇAS RENAIS CRÔNICAS?
Sim. Infelizmente, no Brasil mais de 70% dos pacientes que iniciam programa de terapia renal substitutiva, descobrem a doença em estágios muito avançados, quando pouco pode se fazer para conter a progressão da doença.
O SUS (Sistema Único de Saúde) financia mais de 80% dos tratamentos de terapia renal substitutiva e estes gastos superam 5% das despesas de atenção a saúde de média e alta complexicidade.
Políticas públicas para conscientização da população e para capacitação das equipes de atenção primária são essenciais para o diagnóstico e encaminhamento precoce ao nefrologista, possibilitando o tratamento adequado para conter a progressão da DRC e prevenir suas complicações, visando diminuir o sofrimento dos pacientes e os custos financeiros associados á DRC.
AS DOENÇAS RENAIS CRÔNICAS ESTÃO ENTRE AS “DOENÇAS SILENCIOSAS” MENOS CONHECIDAS E AS QUE MAIS CRESCEM NO BRASIL EM CONSEQUÊNCIA DO ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO E FATORES DE RISCO. QUAIS SERIAM ESTES FATORES DE RISCO ?
Os fatores de risco para o desenvolvimento de DRC, são: hipertensão arterial, diabetes mellitus, idade avançada, obesidade, presença de doença cardiovascular (doença coronariana, acidente vascular cerebral, doença arterial periférica e insuficiência cardìaca), história de doença renal na família, tabagismo e uso de agentes nefrotóxicos.
HOUVE AUMENTO NO NÚMERO DE PESSOAS DIAGNOSTICADAS COM A DOENÇA RENAL CRÔNICA APÓS A PANDEMIA?
Sim. O aumento do número de casos de DRC no pós-pandemia deve-se não só pelo aumento de casos de insuficiência renal aguda e necessidade de terapia dialítica nas unidades de terapia intensiva durante a pandemia por COVID-19, aonde muitos apesar de terem se recuperado do quadro de infecção, permaneceram com algum grau de disfunção renal.
Mas, também pelo abandono do acompanhamento médico durante a pandemia, seja por motivo de isolamento social ou medo de contágio ou inacessibilidade a tratamento, que agravou o quadro clinico existente. Tudo isto associado, a um comportamento imposto pela pandemia, de alimentação inadequada (fast food), trabalho home-office, estudo on line, sedentarismo e aumento da obesidade.
Além disso, durante a pandemia por COVID-19, assistimos a uma redução superior a 20% no numero de transplantes renais no Brasil, agravando ainda mais a problemática da doença renal crônica.
EM QUAIS SITUAÇÕES O PACIENTE PRECISA FAZER HEMODIÁLISE OU NECESSITA DE UM TRANSPLANTE?
Deve-se indicar terapia renal substitutiva (diálise) para pacientes com TFG inferior a 10 mL/min/1,73m2 . Em pacientes diabéticos e com idade inferior à 18 anos, pode-se indicar o início da TRS quando a TFG for menor do que 15 mL/min/1,73m2. Em todas essas situações, deve-se respeitar a condição clínica e alteração laboratorial do paciente. A escolha do método de diálise (hemodiálise ou diálise peritoneal) deve levar em consideração a escolha do paciente, bem como a sua condição clínica e limitações do método.
Conforme a legislação brasileira, Lei n.0 10.211, editada em março de 2001, Art. 9.0 a doação de órgãos para fins de transplante renal intervivos, pode ocorrer entre cônjuges ou parentes consangüíneos até o quarto grau ou entre qualquer outra pessoa (não-aparentada), mediante autorização judicial. O transplante renal com doador vivo é permitido quando a depuração de creatinina do paciente encontra-se abaixo de 15ml/min/m2.
De acordo, com a Portaria 2600, de outubro de 2009, os pacientes portadores de doença renal crônica podem ser inscritos em fila de transplante renal doador cadáver, quando em programa de terapia renal substitutiva ou com depuração de creatinina menor que 10ml/min/m2 e com depuração de creatinina inferior a 15ml/min/m2 se diabético ou menor de 18anos.