A cirurgia bariátrica ( para obesidade ) acaba de comprovar mais um benefício: o controle da hipertensão arterial. De acordo com um estudo inédito realizado por pesquisadores do HCor – Hospital do Coração e publicado na segunda-feira na revista científica Circulation, 51% dos pacientes obesos hipertensos submetidos ao procedimento apresentaram remissão da doença um ano após a cirurgia.
Para avaliar a eficácia da cirurgia bariátrica no controle da hipertensão arterial, 100 pacientes hipertensos com obesidade grau 1 e 2 (IMC entre 30 e 40) foram divididos em dois grupos de 50 pacientes de forma aleatória. Um grupo foi submetido à cirurgia de bypass gástrico em Y de roux, redução do estômago mais praticada no Brasil, associada ao tratamento medicamentoso, e o outro grupo recebeu apenas o tratamento medicamentoso associado a orientações dietéticas e mudança do estilo de vida. Todos foram acompanhados durante o período de um ano.
Os resultados mostraram que 83,7% dos pacientes submetidos à cirurgia bariátrica conseguiram manter a pressão controlada com a redução de pelo menos 30% do número de medicações, enquanto apenas 12,8% do grupo clínico atingiram este objetivo. Além disso, o grupo submetido à intervenção cirúrgica perdeu cerca de 29% do peso corporal, em comparação com menos de 1% entre os participantes do grupo medicamentoso.
Outros benefícios observados nos pacientes submetidos à cirurgia metabólica foram redução do perfil lipídico, de marcadores inflamatórios, colesterol, triglicérides, glicemia e do risco cardiovascular. De acordo com os pesquisadores, essa foi a primeira vez que um estudo controlado e randomizado comprou os benefícios da intervenção no controle e no combate à pressão alta. Os resultados do estudo Gateway foram apresentados na segunda-feira no encontro anual da Associação Americana do Coração (AHA, na sigla em inglês), realizado em Anaheim, na Califórnia, nos Estados Unidos, e recebidos positivamente pelos cardiologistas.
Adesão ao tratamento
Estima-se que 75% dos pacientes hipertensos recorram a pelo menos duas medicações para o controle da doença, o que não só interfere no orçamento, como impõe dificuldades de adesão, acesso ao tratamento e efeitos colaterais indesejados.
“Estudos mostram que quanto maior o número de remédios, pior é a aderência dos pacientes ao tratamento. No caso da hipertensão, a partir de três medicações, a aderência cai em torno de 40% e, consequentemente, o risco cardiovascular aumenta”, diz Schiavon.
Mais da metade das pessoas com sobrepeso são hipertensas e a prevalência de hipertensão é cerca de três vezes maior em pacientes obesos. A doença também está associada a outras complicações como o diabetes, dislipidemia e o risco cardiovascular.
“A cirurgia mais uma vez mostra efeitos muito benéficos, mas é um tratamento que precisa ser bem avaliado pelo médico. Os cardiologistas poderão ter mais uma opção para tratamento de pacientes obesos e hipertensos, principalmente os de mais difícil controle”, ressalta o médico.
Autor: Dr. Carlos Aurélio Schiavon
Centro Médico Berrini
Clínica Médica - Zona Sul de São Paulo