Introdução
A expectativa de vida média no Brasil chegou aos 76 anos, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Assim como no mundo, essa idade tem aumentado com o passar dos anos, graças aos avanços das tecnologias na área da saúde, bem como aos investimentos da indústria farmacêutica. Portanto, para nós, médicos, é imperativo pensar em melhora da qualidade de vida da população em geral. Na prática urológica, uma doença que frequentemente perturba a qualidade de vida do indivíduo é a hiperplasia prostática benigna (HPB), associada ou não com disfunção eréctil (DE).1
Hiperplasia prostática benigna: conceito
Trata-se de um distúrbio proliferativo que compromete o epitélio e o estroma da glândula, levando à formação de nódulos na área denominada como zona de transição, local por onde a uretra prostática atravessa o órgão. (Figura 1) Por essa anatomia, a HPB é responsável pelas alterações miccionais, causa de grande desconforto em muitos homens com idade avançada.2,3 Outro acometimento recentemente atribuído à HPB é a disfunção erétil, o que antes se pensava ser apenas uma ocorrência simultânea, hoje estudos mostram ter uma possível relação de consequência.4,5
As minúcias da etiologia ainda são incertas, mas sabemos que há forte relação com a expressão dos receptores androgênicos prostáticos, em que se ligam os andrógenos, especialmente a di-hidrotestosterona.6
Vale lembrar que nem todos os homens com HPB são portadores de LUTS (Lower Urinary Tract Symptoms). Trata-se de uma doença progressiva que na fase inicial não manifesta os sintomas no trato urinário inferior, mas com o tempo frequentemente causa obstrução à saída urinária, com consequente hipertrofia da parede da bexiga, levando à retenção urinária aguda, além de graves infecções urinárias, hematúria e incontinência, podendo ainda culminar em insuficiência renal crônica.7,8
Vários estudos com placebo, de intervenção a longo prazo, mostraram o curso natural da doença. Em um desses estudos, foram comparados, por exemplo, aos inibidores da 5-alfarredutase, mostrando que, sem tratamento adequado, a doença poderia levar à retenção urinária aguda em homens com próstata maior ou igual a 58 cm3. A redução pelo medicamento foi de 22% e naqueles com antígeno prostático específico (PSA) entre 3,3 e 12 ng/mL foi de 19,9%; mas um efeito colateral indesejável é a diminuição da libido.7
Outro estudo, de Olmstead, com seguimento de seis anos, mostrou aumento do volume prostático de 1,6% ao ano, bem como o agravamento dos sintomas, passando de leves para moderados a graves em 22% dos pacientes que utilizavam apenas placebo.9
Disfunção erétil: conceito, epidemiologia e qualidade de vida
A disfunção erétil é outra comorbidade que causa grandes prejuízos à qualidade de vida masculina. Estudos epidemiológicos de grandes escalas já estabeleceram significativa relação entre disfunção sexual e HPB. Encontram-se na disfunção sexual, além de disfunção erétil, os achados de diminuição da ejaculação e dor ao ejacular. Um dos estudos com mais de 12 mil questionários respondidos por homens de vários países, entre 50 e 80 anos de idade, foi validado. Verificou-se que 90% deles eram portadores de algum dos sintomas de LUTS e 83% relataram alguns problemas em sua atividade sexual nas quatro semanas anteriores.10
Assim como em outros estudos em que a disfunção sexual foi marcadamente relacionada com a idade e a intensidade dos sintomas de LUTS, determinou-se que LUTS é um fator de risco para algumas disfunções sexuais; 66% de homens entre 40 e 49 anos que tinham LUTS também eram portadores de disfunção erétil concomitante, sendo maior ainda a prevalência entre aqueles com idade entre 50 e 80 anos, podendo chegar até 70%.4,11,12
Conclusões
A hiperplasia prostática benigna possui forte relação com a disfunção erétil e com LUTS. Sem tratamento adequado, HPB pode levar à retenção urinária aguda, graves infecções e incontinência urinária, podendo ainda culminar em insuficiência renal crônica.1-8
LUTS é um fator de risco para algumas disfunções sexuais, como disfunção erétil, diminuição da ejaculação e dor ao ejacular, e cerca de 90% dos homens entre 50 e 80 anos de idade são portadores de algum dos sintomas de LUTS com mais de 80% relatando algum problema em sua atividade sexual.4,10-12 Considerando estes dados, podemos concluir, portanto, que essas doenças se correlacionam e apresentam grande relevância na prática médica, pelo importante acometimento da qualidade de vida masculina e envelhecimento da população.1-5
Referências bibliográficas: 1. Lee C, Kozlowski J, Grayhack J. Intrinsic and extrinsic factors controlling benign prostatic growth. Prostate. 1997 May 1;31(2):131-8. 2. Auffenberg G, Helfan B, McVary K. Established medical therapy for benign prostatic hyperplasia. Urol Clin North Am. 2009 Nov;36(4):443-59, v-vi. 3. Roehrborn CG, McConnell JD. Etiology, Pathophisiology, Epidemiology and Natural History of BPH. In: Wein AJ, Kavoussi LR, Novick AC, Partin AW, Peters CA. Campbell-Walsh Urology. 9th ed. Philadelphia: Saunders; 2007. v. XVI, p. 2727. 4. McVary K. Lower urinary tract symptoms and sexual dysfunction: epidemiology and pathophysiology. BJU Int. 2006 Apr;97 Suppl 2:23-8; discussion 44-5. 5. Cameron A, Sun P, Lage M. Comorbid conditions in men with ED before and after ED diagnosis: a retrospective database study. Int J Impot Res. 2006 Jul-Aug;18(4):375-81. 6. Nicholson TM, Ricke WA. Androgens and estrogens in benign prostatic hyperplasia: past, present and future. Differentiation. 2011 Nov-Dec;82(4-5):184-99.7. McVary KT, Roehrborn CG, Avins AL, Barry MJ, Bruskewitz RC, Donnell RF, et al. Management of Benign Prostatic Hyperplasia (BPH). American Urological Association. Disponível em: https://www.auanet.org/guidelines/benign-prostatic-hyperplasia-(bph)-guideline. Acesso em: 2 fev. 2019. 8. Jin BR, Kim HJ, Park SK, Kim MS, Lee KH, Yoon IJ, et al. Anti-Proliferative Effects of HBX-5 on Progression of Benign Prostatic Hyperplasia. Molecules. 2018 Oct 14;23(10). pii: E2638. 9. Lepor H. Pathophysiology, Epidemiology, and Natural History of Benign Prostatic Hyperplasia. Rev Urol. 2004;6(Suppl 9):S3-S10. 10. Rosen R, Altwein J, Boyle P, Kirby RS, Lukacs B, Meuleman E, et al. Lower urinary tract symptoms and male sexual dysfunction: the multinational survey of the aging male (MSAM-7). Eur Urol. 2003 Dec;44(6):637-49. 11. Rosen RC, Wei JT, Althof SE, Seftel AD, Perelman MA; BPH Registry and Patient Survey Steering Committee. Association of sexual dysfunction with lower urinary tract symptoms of BPH and BPH medical therapies: results from the BPH registry. Urology. 2009 Mar;73(3):562-6. 12. Martin-Morales A, Sanchez-Cruz JJ, Saenz de Tejada I, Rodriguez-Vela L, Jimenez-Cruz JF, Burgos-Rodriguez R. Prevalence and independent risk factors for erectile dysfunction in Spain: results of the Epidemiologia de la Disfuncion Erectil Masculina Study. J Urol. 2001 Aug;166(2):569-74; discussion 574-5.
Autor:
Dr. Roni de Carvalho Fernandes - CRM-SP: 67.666
Professor-Assistente da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
Titular da Sociedade Brasileira de Urologia